Vamos falar um pouco sobre duas patologias mais frequentes na gastroenterologia e que muito afetam a qualidade de vida: as gastrites e a doença do refluxo gastroesofágico.
Em uma sociedade capitalista, as exigências socioeconômicas repercutem na rotina alimentar de várias pessoas. O dia intenso de trabalho acaba gerando hábitos alimentares ruins. O consumo, nestes casos, de dietas de baixo teor nutricional como os fast foods são as opções mais preferidas.
Como consequência, as queixas gastroesofágicas são habituais e, com frequência, há o consumo de medicamentos de venda livre, os antiácidos. Mas longe de ser uma medida de alívio, a automedicação pode mascarar e não tratar as patologias do esôfago e do estômago.
GASTRITES
O que são as GASTRITES?
As gastrites são inflamações que ocorrem na camada epitelial que reveste internamente o estômago, chamada mucosa gástrica ou epitélio gástrico.
Podem ser localizadas ou focais, ou ter acometimento extenso em todo o órgão, como a PANGASTRITE.
Tem evolução e apresentação em duas formas:
- Agudas, evoluindo de forma rápida de horas a poucos dias, de caráter autolimitado.
- Crônica, onde a evolução é de meses a anos, com subdivisão em dois tipos:
- Gastrite atrófica (há uma perda das células glandulares produtoras de ácido gástrico);
- Gastrite não atrófica.
Essas inflamações podem ser vistas por exames de endoscopia digestiva alta e principalmente pelo estudo histopatológico da biópsia do estômago. Na avaliação da histologia da mucosa gástrica, notam-se células de defesa como os macrófagos, neutrófilos em grande quantidade, promovendo destruição tecidual.

Qual a função do estômago?
Antes de a gente prosseguir para a doença gastrite, vamos conversar sobre a importância do órgão ESTÔMAGO.
O estômago é um órgão sacular, muscular, localizado intra-abdominal, entre a topografia acima da altura da cicatriz umbilical e abaixo do diafragma (musculatura respiratória que divide o tórax do abdome). A mucosa gástrica apresenta diversas funções no processo digestivo, citadas a seguir:
- Função secretória: formação de ácido gástrico para início de digestão de proteínas e gorduras.
- Controle do microbioma gástrico: a produção ácida ajuda a eliminar grande parte de bactérias, fungos, vírus e toxinas adquiridas pela alimentação.
- Ação hormonal: produção de neuro-hormônios e hormônios que controlam o próprio funcionamento do estômago e de outros órgãos adjacentes, no processo digestivo.
- Liberação de fatores que irão facilitar a absorção de vitaminas e minerais (vitamina b12 e ferro);
- Controle do apetite e da saciedade.
O que causa a gastrite?
Várias são as causas de gastrite e todas, independentemente do tipo, podem levar ou não a sintomas e têm padrões histológicos inflamatórios semelhantes. Os tipos de gastrites mais comuns são:
- Gastrite por infecção pelo Helicobacter Pylori.
- Gastrites por agentes químicos: anti-inflamatórios não esteroides (AINES), antibióticos, bebidas alcoólicas, alimentos condimentados e tabagismo.
- Gastrite gerada ou induzida por estresse (“Gastrite Nervosa”);
- Gastrite de origem autoimune;
- Gastrite por outros agentes infecciosos: citomegalovírus, sífilis e outros.
Quais são os sintomas de gastrite?
A gastrite não é um sintoma e sim uma alteração histológica da mucosa gástrica frente a um insulto, podendo ou não apresentar sintomas. Mas ficou popularmente aceita a denominação de gastrite como sintoma.
No meio médico, definimos de forma resumida os sintomas relacionados à gastrite num termo único: DISPEPSIA.
Mas os mecanismos que levam aos sintomas são diversos, assim como também o tratamento proposto.
Os sintomas são variados, tanto nas características como na intensidade, e nem sempre têm correlação com as lesões evidenciadas nas imagens endoscópicas e do estudo histopatológico.
Assim, pode haver inflamação gástrica sem sintomas, o que dificulta o seu diagnóstico.
Os sintomas mais comuns são descritos a seguir:
- Dor na topografia do estômago (acima do umbigo, na região abdominal).
- Queimação e azia.
- Enjoos e vômitos.
- Inchaço abdominal.
- Sensação de má digestão.
- Arrotos.
As apresentações dos sintomas podem ser contínuas, ocorrer após alguma refeição ou após a ingesta de certos alimentos irritantes gástricos (álcool, café, bebidas ácidas, frituras).
Caso venha apresentando esses sintomas, marque uma avaliação com um especialista.
Gastrite por H. Pylori, o que é?
A causa mais comum da gastrite infecciosa é a gastrite pelo Helicobacter Pylori. A bactéria H. Pylori está presente no solo e na água contaminada. Pode ser transmitida através da saliva, ingestão de alimentos ou água contaminada.
A incidência de contaminação é grande, chegando a variar entre 50 e 75% da população. Contudo, em locais onde as condições de saneamento básico são ruins, a incidência chega a 90%.
A infecção se inicia principalmente na infância e tende a permanecer na fase adulta, principalmente nos casos assintomáticos. Até 20% das pessoas infectadas têm sintomas associados à infecção por H. Pylori.
A infecção por H. Pylori geralmente acomete as camadas mais profundas do muco que reveste internamente o estômago, fazendo com que essa bactéria se proteja da produção ácida estomacal, permitindo uma inflamação duradoura e destrutiva à mucosa gástrica.
As complicações da infecção H. pylori, além da gastrite crônica, podem ser potencialmente graves. Irei separar em tópicos as principais:
- Úlceras gástricas e duodenais, com risco de perfuração e sangramentos.
- Gastrite crônica atrófica por H. pylori. Tal condição é caracterizada pela perda de células produtoras de ácido estomacal, sendo um fator de risco carcinogênico.
- Câncer gástrico, principalmente em pacientes com predisposição genética.
- Linfoma gástrico não Hodgkin tipo MALT (um tipo de câncer associado ao sistema sanguíneo). A resposta imune adaptativa da mucosa frente à infecção pelo H. Pylori possibilita alterações importantes do sistema imunológico, instabilidades e danos ao DNA das células imunes, sendo uma das principais causas do linfoma gástrico.
O tratamento geralmente se baseia no uso de dois antibióticos junto ao uso de inibidores de bomba de prótons, por um período maior que 10 dias, dependendo do esquema usado. A bactéria H. Pylori tem um perfil de resistência a muitos antibióticos. E os mecanismos de resistência apresentados por ela têm, infelizmente, aumentado nas últimas décadas.
Em decorrência da resistência antimicrobiana, a realização de uma nova endoscopia ou a realização de métodos não invasivos, como a pesquisa de antígenos fecais do H. Pylori são importantes na determinação da erradicação. Uma vez NÃO eliminada, outros tipos de antibióticos devem ser tentados.
Gastrite por agentes químicos, o que devo saber?
Um dos campeões de uso de medicamentos sem prescrição médica pela população são os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES).
Um santo e eficiente remédio para paciente com quadro de dor. Porém, os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) são responsáveis por uma série de danos à mucosa gastrointestinal.
A gastrite por AINES é responsável por um número considerável de atendimento médico e, não raras vezes, deparamos com a falta de informação dada pelo paciente durante a consulta, até por considerar que seja uma medicação isenta de efeitos colaterais.
A lesão da mucosa gástrica gerada pelos AINES pode ocorrer com um único comprimido ingerido, ocasionando erosões e até ulcerações.
Entretanto, o uso crônico, contínuo ou repetitivo pode levar a uma gastrite crônica com risco de evolução para um padrão de atrofia (perda das células gástricas) ou para a formação de úlceras crônicas. Os mecanismos que desencadeiam as lesões gástricas são duplos.
O primeiro é a ação do comprimido diretamente na mucosa. Ocorre um processo corrosivo local com destruição da camada de muco protetora do epitélio e, posteriormente, levando à lesão do epitélio de revestimento propriamente dito.
O segundo mecanismo se dá pela reação da medicação (AINES) na cascata inflamatória do organismo. Assim, ele age bloqueando a formação de proteínas protetoras da mucosa gástrica, as PROSTAGLANDINAS. Dessa forma, a mucosa, como um todo, fica exposta aos agentes agressores ingeridos pelo paciente (álcool, sal, bactérias, nitritos, cafeína …). Gerando lesões crônicas, sintomáticas ou não.
O tratamento dessa condição é a suspensão dessas medicações e a preferência para remédios menos lesivos, como os analgésicos comuns ou até opiáceos em alguns casos.
Caso a retirada da medicação fonte não seja possível devido ao componente da dor intensa e do grau inflamatório, medidas para proteção gástrica devem ser instituídas.
Como medidas protetivas, o uso de inibidores de bomba de prótons é uma boa ferramenta, já que esse grupo de medicações diminui a produção ácida estomacal, fazendo com que a lesão por agentes químicos não se some à ação ácida gástrica.
Outros agentes protetores são os citoprotetores, como os sucralfatos. Essas substâncias criam uma barreira mecânica entre o agente químico e a mucosa gástrica, minimizando o processo corrosivo direto desses medicamentos. O consumo de AINES após alguma refeição também confere certo grau de proteção.
Mas o mais importante do uso das medicações anti-inflamatórias é que elas DEVEM ser ingeridas por um período limitado, no máximo 5-7 dias.
É importante saber que existem outras complicações no organismo geradas pelos AINES: lesão intestinal, renal e lesões hepáticas. Pacientes acima de 60 anos preferencialmente NÃO devem usar os AINES.
Assim, toda medicação anti-inflamatória deve ser prescrita e seu uso orientado por um médico.
Existem outros fatores lesivos à mucosa do estômago?
Sim. A lesão de mucosa gástrica pode ser gerada por diversos agentes químicos. E esses agentes são muito comuns em nosso meio. Irei referir-me sobre os principais.
O consumo de álcool, principalmente quando o estômago está vazio, gera inflamação da mucosa, além de gerar uma rápida absorção e seus efeitos colaterais como a embriaguez. Vivemos em um país onde o consumo de álcool é grande, assim como os abusos, tendo repercussão não somente gástrica, mas em todo o sistema orgânico.
O tabagismo é outro agente químico lesivo à mucosa gástrica, tanto por sua ação direta, durante o processo de deglutição da fumaça, como também por sua ação em diminuir a proteção da mucosa.
Alimentos ricos em condimentos industrializados, como os embutidos e molhos, são também vilões ao estômago. Esses alimentos são ricos em sais e componentes nitrogenados, potencialmente carcinógenos (capazes de gerar câncer).
O que é gastrite autoimune?
A gastrite autoimune é uma doença imunomediada, podendo ser de caráter hereditário ou adquirida. Trata-se de uma enfermidade inflamatória crônica onde o nosso corpo produz anticorpos que irão destruir as células produtoras de ácido gástrico.
Essa inflamação crônica pode perpetuar por longos períodos sem que o paciente tenha sintomas. Os sintomas, quando presentes, são inespecíficos, como má digestão, dor epigástrica, pirose e outros.
A sequência evolutiva dessa inflamação leva a uma mucosa atrófica, com perda de células produtoras de ácido estomacal e, por sua vez, diminuição da absorção de vitaminas B12 e ferro. Assim, esses pacientes acabam evoluindo com quadro de anemia, além do aumento do risco de câncer gástrico.
O diagnóstico se baseia na suspeição da gastrite autoimune quando visualizamos alterações durante o exame de endoscopias, como mucosa inflamada e fina. No estudo histopatológico, notam-se várias alterações como mucosa atrófica e até metaplasias (alterações celulares do epitélio de revestimentos), na AUSÊNCIA da infecção por H. Pylori.
A gastrite autoimune, infelizmente, não tem tratamento específico. O seguimento e a vigilância desses pacientes devem ser regulares.
Causas menos comuns de gastrite
Por fim, deparamos com um grupo de afecções gástricas geradas por agentes menos comuns, mas não menos importantes.
Gastrite por vírus e por bactéria não H. Pylori, como o citomegalovírus e a sífilis, respectivamente, embora raras, vem apresentando um certo aumento dos casos nas últimas décadas.
São infecções com padrão de lesões variáveis, inespecíficas, com inflamações leves a ulcerações. Podem ser dolorosas ou apenas causar sintomas leves.
A infecção por citomegalovírus (CMV) é uma infecção predominante de vias respiratórias, comum entre adolescentes. Mas a gastrite por CMV ocorre mais em indivíduos imunossuprimidos, como os portadores de SIDA, oncológicos e pacientes em tratamento com imunossupressores.
Assim, pacientes que fazem uso de imunossupressores e tenham sintomas de gastrite devem ser avaliados por um especialista, para descartarem a possibilidade de infecções oportunistas.
Outra infecção que vem dando destaque no sistema de saúde é a sífilis. O número de pessoas infectadas, principalmente entre jovens, vem aumentando consideravelmente.
A sífilis gástrica é rara. Os sintomas são dores no estômago, náuseas, podendo ter febre e perda de peso. Nem sempre a sífilis gástrica é concomitante às lesões cutâneas. O diagnóstico é feito por biópsia gástrica com estudo imuno-histopatológico.
Gastrite nervosa, existe?
A gastrite nervosa, chamada por nós, médicos, de gastrite induzida por estresse, realmente existe e é um grande motivo da procura ao gastroenterologista.
A gastrite induzida pelo estresse era mais comumente associada a pacientes graves internados nos hospitais. Grandes queimados, politraumatizados, infecções graves, onde o paciente, diante de um insulto inflamatório e/ou infeccioso extenso, evoluía com lesões gástricas graves, como hemorragias, erosões difusas e úlceras.
Essas lesões, atualmente, vêm sendo amenizadas com o uso profilático nas unidades de terapia intensiva de inibidores de bomba de prótons. Tal conduta teve redução significativa dos casos graves de lesões gástricas por estresse.
Mas nos últimos anos essa entidade vem dando espaço para os casos não hospitalizados. A vida moderna, cheia de cobranças, trabalhos exaustivos e não raras vezes abusivos, tem gerado um público extremamente estressado, contribuindo para transtornos de ansiedade e até depressão. Tal realidade tem associado com o aparecimento de gastrites induzidas pelo estresse.
É como se vivêssemos em uma situação sempre de conflito, guerra e perigo. O corpo reage produzindo hormônios neuronais, as catecolaminas, que estimulam a produção ácida estomacal via sistema nervoso autônomo simpático.
A esse estado de alerta somam-se também o mau hábito alimentar, dieta gordurosa, abuso alcoólico, consumo excessivo de sal e tabagismo. Tudo isso favorece as gastrites por estresse.
Ser sincero e aberto ao seu médico o ajudará a traçar medidas para o combate desse tipo de gastrite. Mudança do estilo de vida não é negociável, tem que ser levada a sério.
Esse assunto faz sentido para você?
As gastrites na maioria das vezes é o reflexo de nossa qualidade de vida. Se você tem uma dieta, noite de sono, ingestão hídrica e atividade física adequadas, permitirá ter um estômago saudável por muito tempo. O que a gente ingere define a saúde do nosso estômago.
DOENÇA DO REFLUXO GASTROENSOFÁGICO
Cerca de 18% da população mundial sofre de Refluxo Gastroesofágico. Homens, mulheres e crianças podem ser acometidos.
Afinal, o que é a Doença do Refluxo Gastroesofágico?
A Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) trata-se de uma alteração anatômica ou funcional do esfíncter esofagiano inferior. O esfíncter esofagiano inferior é um segmento na transição do esôfago para o estômago, composto de uma musculatura apropriada que faz o controle da entrada e saída alimentar entre esses dois órgãos.
Vários mecanismos podem gerar o refluxo, dentre eles:
- A perda da força da musculatura local ou a abertura inadequada do esfíncter;
- Enfraquecimento da motilidade do corpo esofagiano;
- Baixa salivação;
- Diminuição do esvaziamento gástrico.
Todos esses mecanismos geram um fluxo intenso e repetitivo de ácido gástrico para a região esofagiana, gerando sintomas e até lesões locais.
O refluxo gastroesofágico é uma condição normal fisiológica no período pós-prandial imediato, porém passa a ser patológica quando esse tempo de exposição é estendido, gerando sintomas e lesões.
Quais são os sintomas do Refluxo Gastroesofágico?
Os sintomas do refluxo gastroesofágico são diversos. Nós dividimos em duas modalidades: sintomas típicos e sintomas atípicos. Os sintomas típicos mais comuns são:
- AZIA, queimação ou pirose no peito (retrosternal);
- Regurgitação: retorno do líquido ácido ou até de parte do alimento para a região retroesternal.
- Sensação de “bolo” ou algo parado em região alta do peito ou garganta (GLOBUS);
- Dor torácica em aperto;
- Sensação de entalo do alimento no peito.
Sintomas atípicos, são os sintomas não sentidos no trajeto normal do refluxo no esôfago, tais como:
- Tosse crônica.
- Dor de garganta recorrente.
- Despertares noturnos com falta de ar ou com tosse.
- Dor de ouvido;
- Sinusites de repetição.
Os sintomas típicos e atípicos do refluxo gastroesofágico podem não ser claros. E nem sempre se apresentam juntos entre si. Por exemplo, o paciente pode ter sintomas de tosse crônica sem ter sintomas de azia ou queimação.
Como fazer o diagnóstico da Doença do Refluxo Gastroesofágico?
Os sintomas apresentados são os mais importantes no diagnóstico, principalmente os sintomas típicos.
Quando o paciente é jovem, sem sintomas de alarme, o próprio tratamento empírico com uso de inibidores de bomba de prótons (IBP’s) por 8 semanas, seguido da retirada, é importante para definição diagnóstica.
Caso o paciente apresente sintomas de alarme como emagrecimento, anemia, dificuldade de engolir ou a não resposta ao tratamento empírico com IBP’s, a ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA (EDA) é MANDATÓRIA.
A endoscopia Digestiva Alta (EDA) é um exame onde é introduzido um aparelho tubular, com o paciente de preferência sedado, pela boca, com objetivo de visualização direta da mucosa do esôfago, estômago e duodeno.
O paciente com DRGE pode apresentar uma endoscopia normal ou apresentar algumas alterações teciduais, vejam algumas:
- Mucosa esofágica edemaciada;
- Presença de erosões e ulcerações na parte distal do esôfago;
- Presença de estenoses pépticas, que são áreas de cicatrização causando deformidade no órgão;
- Hérnia de hiato, quando pequena parte do estômago migra para a região topográfica do esôfago, facilitando o refluxo.
- Presença de modificações epiteliais da mucosa esofágica, ditas como mucosa colunar de Barrett.
Quando o exame de EDA é normal e o paciente é mal respondedor às medidas medicamentosas e comportamentais, existem outros exames para o diagnóstico:
- PH METRIA esofágica: exame onde é introduzido um cateter pelo nariz até a transição esôfago gástrico que capta a acidez do líquido ácido gástrico.
- MANOMETRIA ESÔFAGICA: avalia a motilidade do corpo esofágico e a tonicidade do esfíncter esofágico inferior.
Dessa forma, o diagnóstico da DRGE é complexo, envolve avaliação dos sintomas, avaliação do estilo de vida do paciente e tratamento empírico quando necessário.
O que o refluxo tem a ver com gastrite?
A doença do refluxo gastroesofágico e a gastrite são duas patologias distintas. Contudo, existem algumas situações em que as duas patologias se conectam.
A primeira é quando o indivíduo apresenta um distúrbio de esvaziamento gástrico, onde tal situação aumenta o tempo de exposição ácida em esôfago distal.
O segundo pode ocorrer em situação de hiperacidez gástrica, por exemplo, inflamação gástrica gerada pela infecção do H. Pylori. Assim, a hiperacidez gera maior irritabilidade ou lesão em mucosa esofágica.
Assim, gastrite e refluxo podem se sobrepor, apesar de serem duas doenças distintas com tratamento semelhante.
Quer saber um pouco mais?
Quando devo tratar o Refluxo Gastroesofágico?
Os pacientes com sintomas típicos e sem sintomas de alarme podem fazer tratamento empírico com os bloqueadores de bomba de prótons (IBP’S). Nos últimos anos, o mercado lançou uma nova classe de medicamentos com potencial antiácido bem superior aos IBP’S, os bloqueadores de ácido competitivos de potássio (P-CABs). Previamente aos IBP’s, já existiam os bloqueadores de H2, com potencial de bloqueio ácido inferior aos IBP’s.
Independentemente da medicação usada, o desfecho final do tratamento é diminuir a exposição ácida no esôfago.
Uma vez realizados outros métodos diagnósticos confirmatórios, como a endoscopia digestiva alta ou a pHmetria, principalmente nos casos refratários ao teste terapêutico e nos casos atípicos, deve-se iniciar o tratamento com os antiácidos, com doses personalizadas para cada caso.
A Doença do Refluxo Gastroesofágico tem cura?
Essa estrada é longa. A Doença do Refluxo Gastresofágico é uma condição crônica, onde os sintomas podem ser contínuos ou recorrentes. O uso de medicações de ação antiácida talvez tenha que ser usado de forma frequente ou até contínua. Contudo, muitos casos são melhorados somente com medidas comportamentais.
O tipo da dieta, a quantidade e o que se faz durante e após as refeições muito interfere no aparecimento dos sintomas de refluxo. Desta forma, é de fundamental importância realizar mudanças comportamentais, tais como:
- Evitar refeições copiosas, em grande quantidade;
- Evitar ingerir líquidos junto às refeições.
- Diminuir o consumo de frituras, comidas gordurosas, alimentos ricos em molhos, condimentos e de massas.
- Evitar uso abusivo de café, refrigerantes e bebidas gaseificadas;
- Diminuir o peso corporal se estiver acima da normalidade.
- Deitar-se após 2-3 horas da última refeição.
- Deitar-se com a cabeceira elevada ou com travesseiro mais elevado.
O que é importante ficar ciente é que o abuso alimentar leva à piora dos sintomas de refluxo. Dieta muito restritiva, muito difundida no passado, DEVE ser desencorajada.
Cada indivíduo deve ter a consciência de qual alimento é gatilho para o refluxo e, a partir daí, fazer a retirada.
Mas o meu caso é de cirurgia?
Cada vez mais, as indicações cirúrgicas para o refluxo têm sido mais restritas no contexto da Doença do Refluxo Gastroesofágico. Com o advento dos IBP’s, muitos pacientes e profissionais optam pelo manejo clínico ao invés do cirúrgico.
Então, nem todo refluxo vai parar na mesa de cirurgia!
No entanto, a cirurgia de refluxo gastroesofágico tem sua validade e boa indicação em situações especiais:
- Pacientes portadores de Hérnia de hiato volumosa;
- Casos de estenose péptica por refluxo gastroesofágico, após controle da estenose com dilatações.
- Pacientes com sintomas de regurgitação predominantes com despertares noturnos recorrentes.
- Por fim, situação em que o paciente OPTA por fazer a cirurgia, levando em consideração a indicação médica.
Obviamente, existem infinitas indicações e contraindicações em situações complexas. Para isso, ter uma avaliação do especialista é fundamental.
Mas a Doença do Refluxo Gastroesofágico pode ser grave?
Grande parte das situações de Refluxo Gastroesofágico gera diminuição da qualidade de vida do indivíduo acometido.
Casos graves podem ocorrer nos pacientes com padrão de regurgitação predominante com quadro de broncoaspiração. Tal condição leva a riscos de laringo espasmos noturnos, em que há o fechamento da laringe (garganta) com obstrução da saída de ar, e casos de pneumonias recorrentes.
Outro fator de gravidade são as estenoses pépticas, onde o risco de impactação alimentar e laceração da mucosa esofágica são temidos.
Por fim, pacientes com quadro prolongado de exposição ácida no esôfago podem devolver modificações ao longo dos anos na estrutura celular da mucosa esofágica, ditas como metaplasias (esôfago de Barrett). Estas, por sua vez, a depender da sua extensão, apresentam risco de evolução para câncer esofágico.
Os mitos da Doença do Refluxo gastroesofágico:
- As pessoas que usam medicação para refluxo têm o risco de ficarem dependentes?
As medicações para tratamento da Doença do Refluxo esofágico NÃO geram dependência. Uma vez que deixamos de usar os IBP’S, entre o terceiro e quarto dia da suspensão, a produção ácida, antes suprimida pela medicação, retorna com liberação acima do habitual. É nesse momento que as pessoas retornam ao uso da medicação. A melhor forma de suspender os IBP’s é a redução gradual da dose.
- O refluxo é uma condição hereditária?
NÃO. O refluxo, no adulto, é uma condição adquirida. O ganho de peso é uma das principais causas.
- Eu, como portador de DRGE, tenho que usar medicação pelo resto da vida?
NÃO. As medidas comportamentais são de fundamental importância para manter a DRGE compensada. Mas para alguns pacientes, o uso de medicações como o IBP’s em algum momento vai ser necessário.
- Eu tenho DRGE, NUNCA mais poderei tomar meu café ou minha cerveja?
DEUS me livre! O tratamento para a DRGE deixou de ser terrorista já há algum tempo … rsrs. O que devemos ter em mente é que abusos alimentares com certeza irão gerar sintomas de refluxo. Então, cuide de sua rotina, não se prive tanto de algo de que goste. Mas o consumo consciente e ponderado deve ser seguido.
Palavras finais
A doença do refluxo gastroesofágico é uma realidade que incomoda muitos indivíduos. A mudança de estilo de vida é de fundamental importância para o controle e compensação da DRGE. Uma dieta regular, diversificada, em pequenas proporções, são as primeiras condutas para um refluxo compensado. Perder peso, caso precise, também é um forte aliado para o controle dos sintomas.
Talvez você precise de usar medicações por longa data e está tudo bem! Mas é prudente a realização de avaliação frequente com o médico gastroenterologista para adequação da dose, para vigilância de efeitos colaterais e elaboração de estratégias intervencionistas quando for oportuno.
Quem é o Médico que cuida do Refluxo e da Gastrite?
A Doença do Refluxo Gastroesofágico e a Gastrite são as patologias mais tratadas pelos gastroenterologistas. Sou Roberta Amaral da Silva, gastroenterologista há mais de 10 anos, avalio diariamente casos de refluxo e gastrite. Confesso que, embora seja um tema habitual, o diagnóstico, o tratamento e a resposta clínica do paciente são desafiadoras.
A cada ano, novas terapias, novas abordagens estão sendo realizadas neste universo de doenças funcionais.
Mas cada tratamento é personalizado para cada queixa apresentada. Um atendimento detalhado é necessário para elaborar uma estratégia adequada para cada paciente.
LINKS
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK499926